quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

RESENHAS DOS ÁLBUNS HOMO ETERNUS de G. Andraus

Devido a uma de minhas postagens de divulgação de meus álbuns Homo Eternus, Larissa Dias adquiriu comigo os meus 3 volumes. Enviei-lhe e não tardou, resenhou todos os 3 álbuns, demonstrando uma minuciosa leitura! Imediatamente após eu tomar conhecimento de suas análises, respondi-lhe perguntando se aceitaria com que eu as publicasse em meu blog, ao que prontamente acedeu.

E devo dizer que fiquei atônito com tamanho esmero e detalhismo. Gostei demais! Fez-me, inclusive, refletir que foram anos de minha vida produzindo, e refletindo de acordo com meus sentimentos e impressões do mundo, da vida, a partir das reflexões amplificadas pelas minhas referências lidas/vistas etc, tanto na área cultural como na espiritual (e até acadêmica).

Suas análises fizeram-me ver que valeu a pena (e tem valido). Nem só de construção material e física se faz a humanidade e sociedades. Como nos remetem os gregos, a filosofia e o pensar sobre a existência são necessários tanto quanto! E as artes, como estas dos quadrinhos poéticos igualmente!

Algumas de suas reflexões me deixaram contentíssimo pela seu entendimento. Na HQ “Luz”, por exemplo, realmente tem a ver com a vida brilhar tanto no fulgor da juventude como da senilidade.

Já em “Aicnêgrevnoc” que na verdade é lida de trás pra frente como “Convergência” (duas pessoas já me vieram com esta leitura invertida), e quando construí o título, inconscientemente talvez, mas com intuição, eu o fiz de propósito para causar esta dubiedade de algo que não seria “normal” para algo que seria “incrível”: a natureza se confluindo com homem, pássaro e peixe.


Gosto muito de “O Último Lance” e realmente traz esta dualidade entre o bem e mal, mas que neste jogo, ambos aprendem.


Larissa encontrou até novos fatores que eu desconhecia, nas análises de algumas HQs como na “O Esvanecimento”! Embora eu conheça um pouco de Jung, não sabia desta questão do processo dos 4 tipos.

Assim, apenas resolvi inserir alguns excertos de minhas artes, ilustrando seus apartes da minha obra, que por ora perfaz os 3 volumes que originalmente eram em forma de fanzines na década de 1990.

Enfim, apreciem suas resenhas, que subdividi em 3 partes, inserindo-as em meu blog: 

Vol.1: http://conscienciasesociedades.blogspot.com/2020/12/resenhas-dos-albuns-homo-eternus-de-g.html;

Vol.2: http://conscienciasesociedades.blogspot.com/2021/01/resenha-de-homo-eternus-de-g-andraus.html ;

Vol.3:http://conscienciasesociedades.blogspot.com/2021/01/resenha-de-homo-eternus-de-g-andraus_10.html 


Começando aqui a  primeira resenha.

 

Gazy Andraus, 31/12/2020 (Link ao álbum na Ed. Criativo: https://www.criativostore.com.br/homo-eternus-graphicbook-volume-1/p )



RESENHA DE HOMO ETERNUS – Volume I

por Larissa Dias (Analista na empresa Scientia Consultoria Científica e Psicoterapeuta e Orientadora Profissional na empresa Larissa Dias - https://www.facebook.com/profile.php?id=100009061540478)

 

Conheci este estilo de quadrinhos este ano, o qual o autor chama de fantástico-filosófico. E realmente esse nome é propício, pois é filosófico na medida que ao ter contato com suas páginas não há como não questionar ou, pelo menos, pensar sobre a condição humana, seu condicionamento, procurar compreender o como, o onde e os por quês. Nem toda obra faz isso, mas eu agradeço aquelas que fazem, pois atingem uma profundidade dentro de nós que muitas vezes é difícil de acessar. E é fantástico pois é justamente a dose de fantasia que nos leva a pensar sobre as mais sérias questões de uma forma leve, como o tema da morte, por exemplo. O nosso modo social de lidar com ela é muitas vezes não falando sobre isso, sendo que em cada dia sofremos pequenas mortes dentro e fora de nós, como um processo natural da existência mundana.

 

Atualmente, a obra Homo Eternus conta com 3 volumes, estando o volume 4 previsto para meados de 2021. Como faço com tudo que adoro, vou descrever minhas impressões sobre ela aqui, com o objetivo de estimular outros leitores a procurar essa obra tão impressionante:

 

A primeira história do volume I traz como temática “O Jogo da Vida e da Morte”. Traz uma belíssima metáfora daquilo que vive em contato com aquilo que está morto, essa dualidade, essa luta incessante dos opostos. Me fez pensar no momento da humanidade onde os seres se esquecem do seu caminho e acabam se tornando mortos-vivos da sua existência. Fora do seu propósito, não são capazes de criar nada, de gerar uma nova vida pois se perderam de si mesmos, da fonte. Também me fez lembrar dos inúmeros ciclos mitológicos de vida-morte-vida que trazem a mesma mensagem: de que a morte é parte da vida e vice-versa e que sem uma não poderia haver a outra em um processo de renovação, de uma cruel retroalimentação que faz o mecanismo da existência funcionar.

 


Em “O Aroma da Mudança” existe uma belíssima profundidade sobre o encontro com o nosso fim derradeiro e certo. A forma como vemos esse último processo é o que faz com que possamos apreciá-lo. Mas penso que isso ocorre com todas as coisas na nossa vida: as doenças, as tragédias, as catástrofes que nos atingem tem um objetivo e não é a consequência delas que importa, mas a forma como lidamos com isso. O apego àquilo que achamos possuir nos traz dor e sofrimento, mas o andar suave pelo fluxo do universo é a mais bela sabedoria que podemos adquirir.

 


Em “Pedra Bruta” senti como se as transformações da personalidade passassem pela nossa “pedra bruta” procurando lapidá-la, transformá-la. Mas no fim, nada mais somos do que a nossa essência, ela não se transforma conforme a vida tenta moldá-la, mas ela é o material de base que nos leva a ser quem somos.

 


Em “Luz”, me lembrei no mesmo instante de uma poesia de R. Tagore “Luz, Minha Luz”: nessas duas obras a luz é o que comanda a dança da vida. Mesmo que tenhamos por vezes que passar pela escuridão se não houver luz na nossa dança, ela não será vista, nem por nós nem pelos outros. Um amigo uma vez me disse “se você dançasse no escuro, seria uma joia pendurada na noite”. Acho que a luz que carregamos é o que nos faz brilhar diante dos olhos do eterno. E como tudo, precisamos saber que um dia o fim chega mas que a luz deve brilhar tanto no fulgor da nossa jovialidade como na serenidade da nossa velhice. Assim, não importa o momento de vida, sempre estaremos seguros que nossa existência valerá a pena.

 


Como “Hurizen” é profunda e traz a temática daquilo que o ser humano sempre tenta: dominar! Me lembrou os deuses que precisam que os humanos lhes façam orações para que sejam poderosos, pois sem elas, eles não seriam nada. O tudo realmente depende do nada para lhe caracterizar, afinal, os opostos da vida são o que trazem o movimento e o movimento é a existência. Seja nos processos físicos como nos espirituais, essa dualidade sempre fará com que os opostos em eterno atrito gerem uma força vital capaz de fazer chocar o ovo do novo. E creio que toda divindade verdadeira sabe disso.

 


Que belíssimo simbolismo do Homem, do Peixe e do Pássaro em “Aicnêgrevnoc” (“Convergência”), me fez pensar nos símbolos da serpente junto ao peixe da fênix junto ao pássaro da história. Aquilo que rasteja, nossas sombras mais profundas e aquilo que voa, nossa existência mais luminosa e sublime em união com nossa passagem pela existência da humanidade. Me deu uma sensação de liberdade, de movimento e de poder, mas não poder que aprisiona, mas sim o poder que liberta, aquele livre das amarras dos condicionamentos sociais, familiares, religiosos, etc. É como se o homem pudesse ultrapassar suas barreiras para todos os lados, como se pudesse se jogar no meio do seu inferno sem ser consumido pelas sombras que o constroem e como se pudesse fazer o voo de Ícaro sem se queimar com calor extremo da luz do seu sol.

 



O desenho final dessa história é de uma beleza que nem consigo descrever! Talvez no dia que eu for capaz de trazer essa união mencionada nessa história, as palavras venham de uma forma mais ordenada e eu possa colocá-las no papel.

 


(em breve a 2ª parte)