quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

MM-1984 de Orwell-"maravilha"!

 

MM-1984 de Orwell-"maravilha"![1]

 

Gazy Andraus[2]

 

Apreciei este filme!

A diretora Patty Jenkins acertou desta vez, a meu ver, com a personagem criada pelo psicólogo William Moulton Marston, criada como sugestão de sua esposa, à época, como uma heroína para fazer frente aos mascarados-homens, da National Periodicals e All American Publications[3].

Eu lia os gibis da EBAL e até aqueles em que ela deixou de ser a MM durante seu período como Diana, simplesmente.


Fonte:
Fontes: http://guiaebal.com/quemfoi05.html 


Assim, remeteu-me o longa-metragem (de 2h35’!) aos anos 80, lembrando-me um pouco os tipos de roteiros das HQs utilizados para a revista da Mulher Maravilha - mixados, decerto, aos atuais de George Perez talvez, mas dos mais atuais ainda de outros roteiristas que nem conheço - embora me lembre exponencialmente mais dos antigos, que tendiam a um "quê" de mistério e heroísmo mesmo, concernentes à Wonder Woman, incluindo a vilã e referenciais à arqueologia e história antiga.

Vi também referências aos anos 80, sem falar que a narrativa mostra bastante dos museus do Smithsonian, que tive a alegria de conhecer dois dos que são mostrados no filme: o de História Nacional, em que aparece um elefante empalhado e depois, o Aero-espacial. Mas, claro, a história é interessante pois que mostra a questão do desejo e a contrapartida que é tirada a partir de quem deseja e obtém (via um minério especial cujo nome esqueci-me) e há o foco nesta mensagem do desejo humano e o poder (o ator que faz Maxwell configura-se muito bem na película). Há algumas partes um pouco cansativas, mas em geral, o filme é ótimo (com um “quê” também de Superman I e II com Cristopher Reeve, talvez pelo meu saudosismo alicerçado às cenas na cidade, como apareciam nas décadas de 70 e 80).

Ao sair do cinema (sala quase vazia, pois fui segunda à noite), a mulher do casal à minha frente detestou o filme dizendo que era uma grande sessão da tarde. Bem, que há de mal em ser uma sessão da tarde? Mas eu achei superior aos filmes dedicados apenas a mero entretenimento e/ou passatempo, sim (embora seja para isto o filme, claro).

Porém, devo dizer com tudo isso que, após ver o filme e após ouvir a crítica da mulher, penso que há muito dos referenciais de quem assiste um filme (ou este filme, no caso) que possa influenciar no criticismo de quem sorve um filme. Meus referenciais me permitiram fazer rápidas analogias e conexões enquanto assistia, situando minhas reflexões e assim, permitindo-me gozar de mais fatos e informações trazidas pelo filme. Penso que a depender dos referenciais, influencia a que muitas pessoas possam gostar ou desgostar deste filme, em vários graus (e na verdade, de quaisquer filmes, HQs, livros etc). Ainda assim, preferi este que o primeiro da MM, o qual achei apenas quase mediano à época. Este segundo, 1984 (nome também sugestivo que remete ao livro de G. Orwell - mais outra referência, embora a diretora pareça ter dito que a data se relacionaria mais àquele período como uma época incrível na vida das pessoas), eu até assistiria de novo daqui a um tempo, para reviver e amplificar o que vi de referenciais!


Fontes: http://guiaebal.com/quadrinhos06.html


Só penso que perderam uma grande chance de brincarem com a franquia Star Trek! Explico-me: o personagem aviador Steve Trevor é feito pelo mesmo ator que fez o Capitão Kirk da Enterprise na série mais recente do cinema. No museu aeroespacial que aparece no filme existe uma réplica miniatura da Enterprise (como uma maquete), pois podiam tê-lo feito esbarrar na réplica e dizer algo como: "que nave interessante...será que eu saberia pilotar"! Seria uma brincadeira e tanto!

Devo reforçar que, em muitos momentos (principalmente dentro da área de pesquisa do museu, onde os personagens interagiam), frequentemente me remetiam às HQs da DC publicadas pela EBAL, que misturavam (ou intentavam) ciência com Heróis, tanto em gibis de Superman, Batman, como especialmente nas do Flash e Mulher Maravilha (neste caso, misturando aos roteiros, imaginação e criatividade com uso de pseudo-ciência com aura de pesquisa). Apreciei por me remeterem a isto também.

Creio que a diretora Jenkins foi feliz neste filme, e nos presenteou com algo belo, e que pessoas como eu, que tem referenciais mais anteriores, souberam beber nesta fonte e sorvê-la!

Como um adendo: pro pessoal não pensar que eu estou exagerando ou divagando, pontuo ressalvas críticas: como mencionei antes, algumas partes são um pouco cansativas, e a luta dela com a Mulher-Leopardo na cena com a armadura, eu achei razoável e meio forçada para que usasse a armadura, apenas. E a atriz, infelizmente, a todo momento, me vinha a mente que é belicista e de certa maneira, anti-semita, acusando de forma errada (a meu ver) a luta dos palestinos. Assim como eu recrimino o falecido ator Charlton Heston (Ben-Hur e El Cid), um tremendo ator, mas defensor do uso de armas.

Enfim, minha mente sempre divaga nestas todas paragens ao assistir um filme, no caso, este. Ainda assim, mantenho meu foco no filme e nas reminiscências e boa passagem pela minha visualização. Diferentemente, a mim, do que me transmitiu o último Vingadores, filme ambiciosamente nulo e esquecível (pois neste, o referencial que eu tinha, mais o que ele passou na narrativa, pareceu-me empobrecido, embora pleno de tratamentos com efeitos especiais etc)!


A quem queira conhecer e baixar as duas fases da Mulher-Maravilha (incluindo quando deixa de sê-lo e se denomina simplesmente de Diana), podem encontrar aqui:

- Diana (formato americano pela EBAL): http://guiaebal.com/quemfoi05.html

- Mulher Maravilha (em formatinho pela EBAL): http://guiaebal.com/quadrinhos06.html

- Live com Dani Marinho: “Mulher-Maravilha: feminismo e representatividade na cultura pop” - https://youtu.be/ixGC18_uykE


Gazy Andraus, 21/01/2021 

Um adendo - após reassistir o filme, confirmo meu apreço por ele, aglutinando aqui mais alguns pontos à reflexão: há mais elementos outros aglutinados aos anteriores por mim citados, que vi no filme, nesta segunda vez, e que me confirmaram meu apreço por ele. Só não consigo me lembrar exatamente quais. Pelo menos, um ponto é interessante: a DC tem mania de por sempre, ao final, uma luta dos heróis com algo monstruoso, e desta vez isso não aconteceu, ainda bem. 
Lembrei-me de um ponto que me reverberou: na HQ dos X-Men contra os Z-Noxx, desenhada por Neal Adams na década de 1970, no final, eles vencem os extraterrestres com a energia conectada a todo ente humano: energia de fé, esperança e amor, direcionada pelo professor X. O MM 1984 me lembrou isto tb ao final. 
Gostei, então, das mensagens: a questão dos desejos sendo realizados a todos, que causam distúrbios no equilíbrio do sistema do planeta e, claro, a ética e reprodução de conceitos a mim atinentes, não só à década de 70, mas mantidos em minha verve. Com relação à questão dos desejos, lembro do doc muito criticado "O Segredo" que justamente era uma espécie de "auto-ajuda" falaciosa que tendia a esta questão de que qualquer desejo pode ser realizado. O filme me recordou esta questão e, inadvertidamente, pôs em xeque isto (que eu conhecia por leituras sobre física quântica e outras na linha esotérica etc). Pronto, consegui me lembrar de mais alguns pontos. E, sim, finalizando, tem a ver com as HQs da década de 1970, como eu mesmo lembrei da dos X-Men e da própria DC na época! (02/02/2021)

[1] Após assistir o filme no dia 18/01/2021, veio-me um desejo de escrever algo sobre. Porém, em meio a trabalheira na pesquisa de minha pós, acabei por fazê-lo agora, impulsionado por ter tido um diálogo no facebook com a pesquisadora Dani Marino. É a partir das minhas reflexões no facebook ao responder a ela as razões de eu ter gostado do filme, que resgatei minhas respostas e as reconstruói aqui como um texto).

[2] Gazy Andraus é pós-doutorando pelo PPGACV da UFG, Doutor pela ECA-USP, Mestre em Artes Visuais pela UNESP, Pesquisador e membro do Observatório de HQ da USP, Criação e Ciberarte (UFG) e Poéticas Artísticas e Processos de Criação. Também publica artigos e textos no meio acadêmico e em livros acerca das Histórias em Quadrinhos (HQs) e Fanzines, bem como também é autor de HQs e Fanzines na temática fantástico-filosófica. Contatos: yzagandraus@gmail.com; gazyandraus@ufg.br; http://tesegazy.blogspot.com

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