“Dia Nacional
dos Zines” e “Dia Nacional do Fanzine e a importância de Rontani”
São 2 artigos que escrevi, respectivamente em 22/08/12 e 12/09/12 para
o “ImplulsoHQ” em minha coluna, inaugurando a idéia do “Dia Nacional do Fanzine”.
Como o site não está
mais ativo (foi substituído pela sua contraparte no facebook, mas sem os textos), estou resgatando os textos aqui com
as imagens.
Vou inserir ambos os textos em sequência, conforme originalmente
haviam sido publicados.
Eis o segundo:
Dia Nacional do Fanzine e a importância de Rontani
Como se aproxima a próxima Fanzinada no dia 15 de setembro, a ocorrer na HQMIX Livraria, tecerei um pouco mais sobre esse Dia Nacional do Fanzine que gostaria de relevar, já que no evento discorrerei também acerca dessa comemoração.
Em meu texto anterior publicado no ImpulsoHQ, recebi alguns comentários de apoio e outros questionando adequadamente o fato de “Ficção” de Edson Rontani ser ou não o primeiro zine brasileiro. Fui lembrado por um leitor, Quiof, que houve outro fanzine chamado Cobra, o qual pode ter saído antes, conforme palavras do comentarista:
sim, O Cobra é pouco citado, o próprio Causo diz que é difícil precisar se esses realmente foram os primeiros, fica a curiosidade de ambos seriam ligados a FC. o Ficção do Rontani é o mais conhecido mesmo, já li em várias publicações, talvez você poderia discutir com o próprio Causo, clicando aqui.
Assim, busquei mais informações sobre o tema, enviando mensagem ao Henrique Magalhães, pioneiro na pesquisa de zines no Brasil, e Edgard Guimarães, que edita o informativo fanzineiro QI, já tendo ultrapassado os 100 números. Guimarães me situou a questão da seguinte maneira:
Sobre o assunto do primeiro fanzine do Brasil, eu sempre acho difícil esse negócio de primeiro. Alguém imagina que antes de 1965, ninguém fez uma publicação amadora? Eu não conheço este outro primeiro fanzine descoberto pelo Roberto Causo. Será mesmo um fanzine? Ou, pelo que vi, um impresso lançado numa convenção? E qual o conteúdo? Você viu no último QI o depoimento sobre Edson Rontani. Ele fazia, bem antes de 1965, um jornal que não era impresso, era colocado dentro de mostruários espalhados pela cidade de Piracicaba. Isso era fanzine? Não era impresso mas era publicação, pois o público tinha acesso a ele.
Realmente no QI mais recente (no. 116, págs. 21 e 22 – vide imagens), na coluna “Memória do Fanzine Brasileiro”, um depoimento dado por Edson Rontani Jr., filho do piracicabano Edson Rontani, esclarece vários detalhes do pioneirismo e importância de seu pai ao fanzinato brasileiro, pois Rontani procurava um meio de difusão da cultura das histórias em quadrinhos no Brasil, e só muito depois veio a saber dos fanzines norte-americanos e europeus.
E ainda, bem antes desse seu fanzine, o piracicabano Rontani “fazia cartuns em cartolinas e colava-os em murais (todos emoldurados, sendo uma caixa de madeira com vidro na frente e com um cadeado), os quais eram espalhados pelas áreas movimentadas de Piracicaba.”. Seu fanzine “Ficção” foi distribuído pelo correio e em 1965 criou o Intercâmbio Ciência-Ficção “Alex Raymond”, obtendo apoio de Adolfo Aizen, dono da extinta EBAL, sem falar que o material que conseguia de matéria-prima a seu fanzine era oriundo de muita pesquisa e ineditismo, tendo como premissa publicar artigos pouco conhecidos da maioria.
Além disso, nesse mesmo depoimento, ressalta-se que tal iniciativa de Rontani foi influenciadora tendo repercutido até em publicações internacionais como na Academia de Letras da Suécia. Assim, continua Edgard respondendo-me que:
O “Ficção” tem importância por vários motivos, e o fato de ter sido o primeiro é o de menos. Foi, sem dúvida, o catalisador que fez surgir tantos outros fanzines, como se vê (ou verá) no depoimento de Aimar Aguiar no próximo QI. E trouxe um conteúdo que ainda hoje é imbatível. O primeiro número de “Ficção” trouxe uma relação de todas as publicações de quadrinhos do Brasil (até a data). Cheia de omissões, certamente, mas nunca mais ninguém fez algo como isso. Alguns tentaram, como a lista do Rudolf Piper que saiu no “Livro do Terror”, mas nada que chegasse perto. Então, a escolha de “Ficção” como “primeiro” fanzine é bastante apropriada.
Corroborando com isso, Magalhães traz resposta dessa forma:
Sim, recebi o informe sobre o dia nacional de fanzines, é uma boa ideia, que fortalece as publicações independentes. Tive contato com Roberto Causo para saber informações sobre o fanzine O Cobra e realmente ele é anterior em um mês ao Ficção. Escrevi algo a respeito, que pretendo publicar em um livro sobre fanzines, que ainda não concluí. O que acho é que podemos comemorar o 12 de outubro como o dia do fanzine nacional, numa referência ao Ficção, pois ele foi muito importante para a disseminação dos fanzines no país, ao contrário de O Cobra. Se houver alguma questão sobre isso, que se comemore o dia do fanzine nacional de quadrinhos, o que já tem também muita importância.
E eis que, obviamente tanto um como outro dos dois pioneiros (CoBra e Ficção) se mostram importantes. Mas a influência de Rontani, decididamente se fez maior, ainda que porventura “oficialmente” tenha sido lançada um mês depois que o fanzine Cobra Pelo que li do link disponibilizado por Quiof acerca do fanzine Cobra de Roberto Causo, possuidor de um interessante site de FC e terror literário autoral: a convenção em que lançou seu zine ocorreu em setembro de 1965 e o Ficção de Rontani em outubro.
Rontani também participava de um intercâmbio de ciência e ficção e pode até ter conhecido essa convenção, quem sabe?
Os dados de “Ficção” e do pioneirismo de Edson Rontani estão registrados principalmente no livro seminal da pesquisa nacional de zines brasileiros “O que é fanzine” de Henrique Magalhães (livro da Ed. Brasiliense lançado em 1993, pg. 39). Assim, não se pode precisar se Rontani já não trabalhava antes no boletim Ficção (que era um fanzine), e igualmente, como quase não há tantos dados do fanzine, porém, a data escolhida se coloca apenas como uma justa homenagem e um incentivo aos zines brasileiros.
Na verdade, estas questões sempre trazem problemas: os norte-americanos vivem defendendo o ano de 1896 com Yellow Kid como primeira HQ do mundo, e antes disso no Brasil, em 1869 já havia as aventuras do personagem Nhô Quim de Ângelo Agostini…e antes ainda havia vários europeus que fizeram HQ, tanto na Alemanha, como Suíça e França…portanto, uma questão delicada essa de nomear um dia nacional aos zines.
Mas creio q vale a pena manter como homenagem a data de 12 de outubro, assim como me apoiaram Magalhães e Guimarães, e não apenas como o dia do fanzine de quadrinhos (o que seria mesmo uma boa idéia, já que como afirmei em meu texto anterior, foram os fanzines no Brasil que impulsionaram a arte da publicação dos quadrinhos, em geral), mas o Fanzine nacional mesmo.
Por ser dia 12 também, antes que os detratores me relembrem como sendo o dia das crianças, creio que possa ser mantida, pois meu texto anterior assevera essa questão da infância com a criatividade, sem menosprezá-la.
Enfim, até o dia 15 de setembro, quando na próxima Fanzinada estarei ratificando essa vontade de espalhar o Dia Nacional do Fanzine brasileiro a partir de 12 de outubro já desse ano!
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