MM-1984 de
Orwell-"maravilha"![1]
Gazy Andraus[2]
Apreciei este filme!
A diretora Patty Jenkins acertou desta vez, a meu ver, com a
personagem criada pelo psicólogo William Moulton Marston, criada como sugestão
de sua esposa, à época, como uma heroína para fazer frente aos mascarados-homens,
da National Periodicals e All American Publications[3].
Eu lia os gibis da EBAL e até aqueles em que ela deixou de
ser a MM durante seu período como Diana, simplesmente.
Fontes: http://guiaebal.com/quemfoi05.html |
Assim, remeteu-me o longa-metragem (de 2h35’!) aos anos 80,
lembrando-me um pouco os tipos de roteiros das HQs utilizados para a revista da
Mulher Maravilha - mixados, decerto, aos atuais de George Perez talvez, mas dos
mais atuais ainda de outros roteiristas que nem conheço - embora me lembre exponencialmente
mais dos antigos, que tendiam a um "quê" de mistério e heroísmo mesmo,
concernentes à Wonder Woman,
incluindo a vilã e referenciais à arqueologia e história antiga.
Vi também referências aos anos 80, sem falar que a narrativa
mostra bastante dos museus do Smithsonian, que tive a alegria de conhecer dois
dos que são mostrados no filme: o de História Nacional, em que aparece um
elefante empalhado e depois, o Aero-espacial. Mas, claro, a história é
interessante pois que mostra a questão do desejo e a contrapartida que é tirada
a partir de quem deseja e obtém (via um minério especial cujo nome esqueci-me)
e há o foco nesta mensagem do desejo humano e o poder (o ator que faz Maxwell configura-se
muito bem na película). Há algumas partes um pouco cansativas, mas em geral, o
filme é ótimo (com um “quê” também de Superman I e II com Cristopher Reeve,
talvez pelo meu saudosismo alicerçado às cenas na cidade, como apareciam nas
décadas de 70 e 80).
Ao sair do cinema (sala quase vazia, pois fui segunda à
noite), a mulher do casal à minha frente detestou o filme dizendo que era uma
grande sessão da tarde. Bem, que há de mal em ser uma sessão da tarde? Mas eu
achei superior aos filmes dedicados apenas a mero entretenimento e/ou passatempo,
sim (embora seja para isto o filme, claro).
Porém, devo dizer com tudo isso que, após ver o filme e após
ouvir a crítica da mulher, penso que há muito dos referenciais de quem assiste
um filme (ou este filme, no caso) que possa influenciar no criticismo de quem
sorve um filme. Meus referenciais me permitiram fazer rápidas analogias e
conexões enquanto assistia, situando minhas reflexões e assim, permitindo-me
gozar de mais fatos e informações trazidas pelo filme. Penso que a depender dos
referenciais, influencia a que muitas pessoas possam gostar ou desgostar deste
filme, em vários graus (e na verdade, de quaisquer filmes, HQs, livros etc).
Ainda assim, preferi este que o primeiro da MM, o qual achei apenas quase mediano
à época. Este segundo, 1984 (nome também sugestivo que remete ao livro de G. Orwell
- mais outra referência, embora a diretora pareça ter dito que a data se
relacionaria mais àquele período como uma época incrível na vida das pessoas),
eu até assistiria de novo daqui a um tempo, para reviver e amplificar o que vi
de referenciais!
Fontes: http://guiaebal.com/quadrinhos06.html |
Só penso que perderam uma grande chance de brincarem com a
franquia Star Trek! Explico-me: o
personagem aviador Steve Trevor é feito pelo mesmo ator que fez o Capitão Kirk da
Enterprise na série mais recente do cinema. No museu aeroespacial que aparece
no filme existe uma réplica miniatura da Enterprise (como uma maquete), pois podiam
tê-lo feito esbarrar na réplica e dizer algo como: "que nave
interessante...será que eu saberia pilotar"! Seria uma brincadeira e
tanto!
Devo reforçar que, em muitos momentos (principalmente dentro
da área de pesquisa do museu, onde os personagens interagiam), frequentemente
me remetiam às HQs da DC publicadas pela EBAL, que misturavam (ou intentavam)
ciência com Heróis, tanto em gibis de Superman, Batman, como especialmente nas
do Flash e Mulher Maravilha (neste caso, misturando aos roteiros, imaginação e
criatividade com uso de pseudo-ciência com aura de pesquisa). Apreciei por me
remeterem a isto também.
Creio que a diretora Jenkins foi feliz neste filme, e nos
presenteou com algo belo, e que pessoas como eu, que tem referenciais mais
anteriores, souberam beber nesta fonte e sorvê-la!
Como um adendo: pro pessoal não pensar que eu estou
exagerando ou divagando, pontuo ressalvas críticas: como mencionei antes,
algumas partes são um pouco cansativas, e a luta dela com a Mulher-Leopardo na
cena com a armadura, eu achei razoável e meio forçada para que usasse a
armadura, apenas. E a atriz, infelizmente, a todo momento, me vinha a mente que
é belicista e de certa maneira, anti-semita, acusando de forma errada (a meu
ver) a luta dos palestinos. Assim como eu recrimino o falecido ator Charlton Heston
(Ben-Hur e El Cid), um tremendo ator, mas defensor do uso de armas.
Enfim, minha mente sempre divaga nestas todas paragens ao assistir um filme, no caso, este. Ainda assim, mantenho meu foco no filme e nas reminiscências e boa passagem pela minha visualização. Diferentemente, a mim, do que me transmitiu o último Vingadores, filme ambiciosamente nulo e esquecível (pois neste, o referencial que eu tinha, mais o que ele passou na narrativa, pareceu-me empobrecido, embora pleno de tratamentos com efeitos especiais etc)!
A quem queira conhecer e baixar as duas fases da Mulher-Maravilha
(incluindo quando deixa de sê-lo e se denomina simplesmente de Diana), podem
encontrar aqui:
- Diana (formato americano pela EBAL): http://guiaebal.com/quemfoi05.html
- Mulher Maravilha (em formatinho pela EBAL): http://guiaebal.com/quadrinhos06.html
- Live com Dani Marinho: “Mulher-Maravilha: feminismo e
representatividade na cultura pop” - https://youtu.be/ixGC18_uykE
Gazy Andraus, 21/01/2021
[1] Após assistir o filme no dia
18/01/2021, veio-me um desejo de escrever algo sobre. Porém, em meio a
trabalheira na pesquisa de minha pós, acabei por fazê-lo agora, impulsionado
por ter tido um diálogo no facebook com a pesquisadora Dani Marino. É a partir
das minhas reflexões no facebook ao responder a ela as razões de eu ter gostado
do filme, que resgatei minhas respostas e as reconstruói aqui como um texto).
[2] Gazy Andraus é pós-doutorando pelo PPGACV
da UFG, Doutor pela ECA-USP, Mestre em
Artes Visuais pela UNESP, Pesquisador e membro do Observatório de HQ da USP,
Criação e Ciberarte (UFG) e Poéticas Artísticas e
Processos de Criação. Também publica artigos e textos no meio acadêmico
e em livros acerca das Histórias em Quadrinhos (HQs) e Fanzines, bem como
também é autor de HQs e Fanzines na temática fantástico-filosófica. Contatos: yzagandraus@gmail.com;
gazyandraus@ufg.br;
http://tesegazy.blogspot.com
[3] Referências acerca de Marston: https://formigaeletrica.com.br/quadrinhos/artigos-hq/fases-hq-mulher-maravilha/
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