A HQs têm extrema complexidade, tanto em sua estrutura
linguística e de elementos, como de conteúdo, pendendo entre o literário
escrito e o imagético (desenhado). Mas as HQs não são literatura. E vice-versa!
Em minha tese expliquei que os desenhos e a ambivalente leitura panvisual de uma história
em quadrinhos fornece em cada página um estímulo que ativa áreas cerebrais
distintas provendo uma inteligência mais complexa e sistêmica (já que os
hemisférios trabalham em conjunto). O aprendizado de conceitos básicos atuais
da ciência cognitiva (e quântica) deveria ser obrigatório na educação formal,
pois sem tais embasamentos, muitas teorias em diversas áreas, se tornam meras
repetições de padrões antigos que não se atualizam, e que em realidade, sob as
luzes da ciência hodierna, se perpetram como erros simplesmente por continuar
uma crença que se pensava ser correta. Um exemplo são as próprias HQs e seu uso
cada vez mais procurado nas escolas. Pois na década de 1970 essas mesmas HQs
eram não só evitadas como impedidas de serem lidas, com argumentos de que
seriam perniciosas já que atrapalhariam os estudos. Na atualidade os quadrinhos
são usados em aulas e incentivados pelo governo ao adquirirem-nos pelo PNBE
(Programa Nacional Biblioteca da Escola). Ora, não foram as HQs que mudaram, e
sim o conceito da inteligência humana acerca de suas reais potencialidades.
Tais conceitos atualizados têm a ver com premissas de estudos cognitivos, os
quais vieram na esteira da mudança de visão paradigmática da física clássica à
quântica, que proveu a própria ciência das possibilidades tecnológicas de se
elaborar tecnologias mensuráveis das potencialidades humanas e o que ocorre nas
nossas mentes derivado do que nos influencia.
Assim, como diz no texto de Paulo Ramos (11.09.13 - HQs
trabalham conteúdos de forma superficial, diz Instituto Pró-Livro - http://blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br/),
as declarações de Zoraya Failla, gerente-executiva do Instituto Pró-Livro
(órgão que reúne editoras e que patrocina a pesquisa Retratos da Leitura no
Brasil), de que as HQs podem trabalhar os conteúdos de forma superficial, e de
que tal “ferramenta” (a HQ) pode servir para trazer os jovens para a literatura
ou para temas mais “complexos” é equivocada por ser incompleta e reducionista
no pior sentido, pois tal pensamento reflete o padrão antiquado sem atualização
dos conceitos pertinentes à própria ciência, que envolve novos saberes
atinentes à forma como a mente trabalha e às ferramentas que nela atuam. A
saber, os desenhos estimulam a criatividade hemisferial direita do cérebro, e
tanto quem os faz, como quem os assimila (“vê”, “lê”, “absorve”) exponencia sua
mente no quesito criatividade. Ao mesmo tempo, como uma página de história em
quadrinhos é diagramada de imagens que se sucedem e aparecem concomitantemente,
estimulam na leitura um processamento visual tanto central como periférico, já
que o olhar perpassa o quadrinho em que focaliza enquanto sua visão lateral se
mantém no(s) quadrinho(s) anterior(es), que narra(m) o passado, como no(s)
subseqüente(s), aventando o futuro, já que a diagramação por página os envolve
numa complexidade visual rica e imagética mas quase que não-linear.
Aliado a
isso, há os textos fonéticos na HQ que são lidos pelo hemisfério esquerdo
(racional e linear), o que acaba por tornar mais complexa ainda a leitura de
uma história em quadrinho, estimulando de maneira até agora não totalmente
mensurada pela ciência atual através da tomografia computadorizada. Ainda
assim, sabe-se que estão medindo as ondas alfa de monges budistas ao meditarem,
e de outras atividades, mas as experiências com leituras de imagens e textos,
em separado já realizadas, comprovam a atuação dos hemisférios da maneira com
que explicitei (inclusive descobriram que a leitura dos ideogramas chineses se
realiza mais pelo hemisfério direito – que é como se lessem imagens - do que
pelo esquerdo, pelo qual se assimilam os fonemas da escrita ocidental), e portanto, sendo os
chineses desenvolvedores criativos (pólvora, massa etc), não se pode negar que
a leitura de desenhos (ideogramas idem) estimula essa inteligência mais
complexa a que me referi. Assim, obviamente a leitura de quadrinhos não é uma
ferramenta para outras linguagens, mas por si só é uma ferramenta
autosuficiente. E se aliada a outras, como asseverou Zoraya Failla,
gerente-executiva do Instituto Pró-Livro, se torna mais rica e complexa do que
aparenta seu senso-comum memetizado de que os quadrinhos são menos complexos.
Menos complexidade eles têm se colocados pelo viés de seus textos escritos
apenas, em paralelo à leitura fonética cartesiana, sim. Mas como a leitura das
páginas de uma HQ não se resume aos fonemas nelas encontradas, e sim aliam-se estes
(que algumas vezes até inexistem) aos desenhos, a assertiva da gerente-executiva
se mostra falha e preconceituosa por desconhecer as atualizadas informações
acerca de como funciona a mente humana. Pois a imagem, como expliquei, amplifica
e instiga os hemisférios cerebrais num profícuo amálgama de deliberações
cartesiano/criativas amplificando o imaginário do leitor, que pode recriar
outras contextualizações interdisciplinares, retroalimentando sua inteligência
mais do que meramente pela racionalidade linear. O mesmo o faz a literatura
tradicional ao incentivar as mentes a criarem enquanto leem...mas nas HQs, os “vãos” dos quadrinhos que existem neles também estimulam o
leitor a imaginar e criar outras passagens que inexistem na história
panvisual...além dele absorver os desenhos do autor que os elaborou, de uma
maneira que ainda precisa ser pesquisada com mais acinte pela tomografia
computadoriozada científica. E isso se estende às outras artes, cada qual com
suas particularidades elementares aduzidas devido às incorporações, por
exemplo, de sons e movimentos (as artes das animações e dos filmes) etc.
Este esclarecimento meu, vem ao encontro da
problemática que apontou Paulo Ramos em seu blog nessa data (acima mencionado),
lembrando que tais preconceitos sem base científica corroboram, como ele falou,
numa “interpretação que tem pautado políticas governamentais de uso dos
quadrinhos no ensino, entre elas o PNBE”, o que é um erro grave pois pontua uma
qualidade limitada a um veículo de comunicação de massa (mas também artístico,
pois autoral), que não deve ser limitado a determinados temas como trampolins
desses ou daqueles, e sim, estimulado a ter suas qualidades usadas para um
melhor usufruto à expansão da educação em geral, principalmente
sistêmico-criativa! Para tanto, não se deve crer que se busquem HQs apenas como ferramentas de auxílio, por exemplo, à leitura de livros, e nem que sejam apenas adaptações literárias, e sim, que as HQs possam ser usadas devido às suas próprias qualidades autônomas de arte e potencial panvisual, conforme explicitei.
Para mais esclarecimentos, sugiro a leitura de minha tese: http://tesegazy.blogspot.com.br/2008/11/tesegazy.html,
a qual custou-me três anos de desenvolvimento e um quarto para a reorganização
e finalização dela, embasada pelas leituras não só das áreas afins (HQs etc),
como também da ciência cognitiva e aportes teóricos acerca das mudanças
paradigmáticas da física clássica à quântica, e que encontrou ecos na necessidade
de mudanças nos rumos educativo-pedagógicos.
Gazy
Andraus, 11/09/2013, São Vicente-SP
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