Gazy Andraus[1]
Realizam-se
desde o dia 07 aos 18 de setembro de 2016 as ParaOlimpíadas.
Antes que
alguém me corrija, na verdade, segundo as regras ortográficas da língua
portuguesa, não se retiram as vogais iniciais do segundo elemento, conforme
explica o próprio Pasquale Cipro Neto (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2016/09/1811218-paraolimpiada-ou-paralimpiada.shtml),
sendo errôneo, portanto, aplicar o termo "paralimpíada". Mas o que
houve foi uma padronização imposta pelo Comitê Internacional Olímpico aos
países lusófonos. Portanto, posso usar tranquilamente tanto paralímpico como
paraolímpico (em que este segundo, na verdade, é que está correto).
Feita a
explicação, escrevo essa resenha, ainda que não morra de amores por
transmissões esportivas televisivas (embora goste e pratique esportes, não aprecio
assisti-los), e o faço porque havia já previsto que as TVs de canais
"abertos" (que em breve serão apenas digitais na transmissão
nacional) não transmitiriam a abertura dessas Paraolimpíadas (advertindo-vos
que só possuo a TV aberta e acabei com minha TV "a cabo")! E porque e
como previ isso? Simples: associação racional cartesiana hemisferial da porção
cerebral esquerda com a direita, intuitivo-criativa e sensível! Obviamente não tenho como comprovar que
previ, à exceção que cogitava tais pensamentos comigo dias antes desse evento
começar, concluindo que, se nas Olimpíadas tivemos overdose televisiva, as TVs
não estariam muito solícitas a repetirem as doses, para que não modificassem em
muito novamente sua grade de programação, a fim de não perderem o público, o
qual por sua vez não estaria tão
disposto a assistir o que para ele é um arremedo de olimpíada (não é pensamento
de todo meu, mas é como pensam, tenho certeza - todavia, sim, eu penso um pouco
assim: ora, as Olimpíadas são o supra-sumo dos esportes, então, as
paraolimpíadas são de qualidade inferior, e portanto, não me farão ter vontade
de vê-las tanto - isso se eu gostasse de ver desportos pela TV, como já
lembrei-vos que não - diferentemente da grande massa da população que gosta,
mas como disse, torce o nariz para eventos, digamos, menores como esses jogos
paralelos). Ademais, com isso, não perderiam pontos no IBOPE. Porém, eu soube depois
que apenas a Rede Globo seria a TV comercial detentora de poder transmitir esses
jogos inclusivos, mas igualmente tive conhecimento de que a TV Cultura poderia
fazê-lo mas também se absteve (apenas a TV Brasil, dos canais ditos abertos, ao
que parece, transmitiu a abertura e transmite os jogos agora).
Mas se
não me interesso por desportos televisivos, porque reclamo? Porque faço parte
da sociedade e, embora não faça muita questão, admiro os esforços de pessoas
que superam seus limites e, mais ainda, superam suas deficiências, e prevendo
que haveria essa falta de respeito para com elas, decidi observar e depois escrever
para tentar admoestar a sociedade de que está olhando muito para seu próprio
umbigo (pensando ser seu cérebro ou coração!). Eu mesmo quase não vi os jogos
olímpicos, mas o pouco que assisti da abertura me sensibilizou (apesar de que o
Brasil não é só o Nordeste, já que centraram foco nele, talvez para devolver um
pouco do que tem sido malversado e abusado por décadas, bem como os preconceitos
etc). Portanto, em verdade continuada, ainda estava disposto a ver um tanto da
abertura para averiguar como o Brasil resolveria isso, já que brindou a todos
com uma bela abertura das Olimpíadas (que nem por isso, esqueço-me de criticar
por elas terem ocorrido em nossas terras, já que ainda somos terceiro ou quarto
mundo nas áreas de educação e principalmente saúde, na qual faltam materiais e
assistências à população que desfalece nos corredores de hospitais e
instituições de saúde). Pois bem, vi um pouco das Paraolimpíadas após sua
abertura, quando a poderosa Rede Globo reapresentou de forma editada ao fim de
noite (com o magistral maestro João Carlos Martins - escolha certeira já que
ele mesmo superou uma deficiência em suas mãos após cirurgia) e podia ter visto
mais antes, se tivesse o canal de TV mostrado na íntegra e no horário correto e
ao vivo a abertura.
(Fonte: http://chuteirasforadefoco.blogspot.com.br/?expref=next-blog) |
Mas o que
me causa indignação total e repulsa é ver o paradoxo de nossa sociedade que se
diz inclusiva e humana. Onde está isso, quando nenhum dos canais abertos
apresenta a abertura de tal evento, negando o valor que diz dispender aos que têm
deficiências e querem superá-las? Onde está toda esta "boa vontade",
traduzida agora em falácia e mentira que se expõe fartamente a nossos olhos
(cegos, pois mesmo eu podendo enxergar, não pude ver)?
Parabéns
ser humano, cuja máscara cai de vez e mostra que seu interesse não é mesmo o
auxílio a outrem que costuma bradar em forma de (falso) socorro! E parabéns,
redes de TV (principalmente a que se diz do governo do Estado de São Paulo -
mas esta não sintoniza em minha modesta antena), e principalmente à Rede Globo,
que - como li no facebook, recebeu sábias críticas agora - já que finge querer
ajudar crianças no seu show auto-egóico intitulado "Criança-Esperança"
(mas que nele cobra do cidadão além de um valor mínimo estipulado, as ligações
telefônicas e mais impostos para nosso benquisto governo, seja lá qual ele for,
sem que nenhuma mídia questione isso tudo!).
Você, Rede
televisiva de concessão Globo, e vocês TVs outras, e nós, sociedade, mostramos
quem somos realmente: aproveitadores, que só nos movemos se valer o interesse -
vide a foto que a própria Rede pôs com seus atores simulando deficiências para
chamar a atenção da população...para um evento que não transmitiu (afinal, não
vou mudar minha programação para um evento menor que as Olimpíadas, e perder
meu rebanho que assiste minhas novelas e outras programações, já sabendo que as
Paraolimpíadas não são tão "importantes" assim, pois que só trazem
pessoas que não são tão famosas e que têm algumas deficiências, cujas
performances serão bem distintas das consagradamente olímpicas etc etc etc).
Tão falsos como o Canal que os anunciaram (Fonte: http://www.joaoalberto.com/2016/08/24/cleo-pires-e-paulo-vilhena-estrelam-campanha-sobre-paralimpiadas-e-causam-reacao-negativa/cleo-pires-paulo-vilhena-paralimpiada-3/) |
Enfim,
fico péssimo em saber que faço parte desta sociedade que não se questiona, que
não delibera e que acata imposições de outrem ("Paralimpíada" por
que? Eu falo ParaOlimpíada, pois estou gramaticalmente amparado).
E assisto
se quiser, claro. Mas não me deram chance de assistir ou não, apenas de
"não", caso quisesse (por causa das quantias em dinheiro que querem
receber). Porque pensaram nos números. Mas nos das pessoas numerosas não
participantes do evento desportivo tido como inclusivo (mas exclusivamente
televisionado) que quereriam ver a programação normal. Que não quereriam ver
pessoas com "limitações" num "pseudo-esporte".
Bem, então tenho uma notícia para todos nós: descobri que também somos
limitados, deficitários, nesse palco cósmico/terreno! Somos
deficientes-fraternos e deficientes de caráter! E isso, amigos, é grave,
gravíssimo, pois daí vêm todos os males, as querelas, disputas, falta de visão,
brigas, admoestações infundadas, guerras, matanças, poucos casos e preconceitos
(estes piores, pois machucam o não físico, que demora mais que este a se
curar).
Eis o que
somos nesse mundo Paraolímpico! Menos para o bem, que para o mal!
Ainda
conseguiremos reverter isso, como reverteu o maestro?
Gazy
Andraus, São Vicente/SP, 10/09/16
[1]Professor da da FIG-UNIMESP - Centro Universitário
Metropolitano de São Paulo; Doutor em Ciências da Comunicação pela USP; mestre
em Artes pela UNESP, pesquisador do Observatório de HQ da USP; INTERESPE –
Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação; Interculturalidade e
Poéticas de Fronteira e autor independente de HQ fantástico-filosófica. yzagandraus@gmail.com
; http://tesegazy.blogspot.com/
Crítico
ResponderEliminarInstigante
Investigativo
Reflexivo
Humano
Na minha opinião, essas palavras sintetizam bem o seu texto.
É de extrema importância que as pessoas façam essa leitura para que elas possam saber exatamente a que tipo de mídia estamos expostos.
Uma população obediente e cordata à TV aberta, que não nos deu a opção de decidir por assistir ou não à abertura e nem ao encerramento das Paraolimpíadas.
Cadê a sociedade que se diz inclusiva e humana? ��
Porquê a abertura e o encerramento das Olimpíadas foram transmitidos pela Globo e as Paraolimpíadas não?
Estamos na era da inclusão, minha gente!
Vejo uma sociedade que não expõe suas próprias idéias e que não luta pelos seus direitos.
Uma emissora que transmite todo ano um programa como o "Criança Esperança" com o "intuito" de ajudar crianças JAMAIS e EM TEMPO ALGUM poderia deixar de veicular a abertura e o encerramento de um evento desportivo de tal magnitude!
Por favor, deixemos de acreditar cordialmente em tudo e em todos.
As pessoas precisam de mais textos como esse seu, Gazy Andraus. E sabe porquê?
Pois eles ampliam o senso crítico.
Seu texto faz com que reflitamos. E isso nos leva a uma conscientizaçao humana.
Que a TV aberta não faça pouco caso de uma próxima vez.
Pensando bem... Falando sobre a transmissão das Paraolimpíadas no Brasil... Não haverá uma próxima vez... :/
Nao exijamos aceitação de ninguém, mas sim poder de escolha.
Ass.: PRISCILA.
Grato pelo incentivo, Priscila. realmente, precisamos cada vez mais percebermos como somos manipulados nessa sociedade. E nossas reflexões levam a essa percepção. Como eu quero espraiar tais sensos críticos, faço vez ou outra textos como esse, e por isso criei esse blogzine!
Eliminar