A questão da arte e da consciência perpassam
juntas as idéias humanas. Também são atinentes à ética e moral, bem como o
senso de fraternidade que deveria nos pautar, mas que parece ter sido relegado
a um canto desmemoriado, em troca dos afazeres profissionais e técnicos que se
tornaram o “sistema” algoz que nos mata e sufoca, em detrimento ao humano e
sensível! Como advertiu Jung
‘O Artista
não é uma pessoa dotada de livre arbítrio que persegue seus próprios objetivos,
mas alguém que permite à Arte realizar seus propósitos através dele. Como ser
humano, ele pode ter humores, desejos e metas próprias, mas como Artista ele é
“homem” num sentido mais sublime - ele é um homem coletivo - alguém que carrega
e molda a vida psíquica inconsciente da humanidade.’ (Jung, 1933, 189)[2]
Dessa
maneira, a arte ultrapassa o senso de estética que se deslocou na
contemporaneidade, em que quaisquer arremedos estéticos são tidos como
artísticos. O que vale não é a obra, mas a “ideia”, empurrada goela abaixo como
um dogma religioso aos que se deparam com tais obras. Independente disso, ainda
fico com a beleza das mensagens, a tônica das forças delas, revestidas de uma
força imagética que seja capaz de se igualar ao conteúdo. Edgar Franco, artista
multimídia codinominado como o Ciberpajé, é um desses artistas
conscientes do poder da informação como materialização de idéias e afluxos de
causas/conseqüências! Assim, ele não só tem desenvolvido uma obra consistente
em diversas áreas, como nas Histórias em Quadrinhos poéticas, bem como no
cenário musical-imagético com seu projeto PostHumanTantra, e envolvendo tudo em
pesquisas acadêmicas de vanguarda, como professor-pesquisador com Pós-Doutorado
em Artes e Tecnologias da UFG! Ao se rebatizar como CiberPajé
quando completou 40 anos, singrou por um caminho cada vez mais sincero e
esfuziante nas artes e nas reflexões, abarcando interdisciplinarmente modalidades
das artes espargidas e envolvendo diversos profissionais amigos e alunos que
aceitam colaborar como cocriadores de sua obra homérica. Várias são suas
coligações, como em BioCyberDrame Saga com Mozart Couto e agora os HQforismos
com Danielle Barros (que foram assim batizados por Edgar e Danielle)! É aqui
que esta resenha quer se fixar no momento: lançado recentemente o fanzine
“Uivo”, Edgar mantém o processo criativo alternado, e revigora os quadrinhos
bem como os fanzines, trazendo nas 8 páginas desse mini-zine, 6 HQforismos
contundentes, pois enriquecidos pelas imagens que locupletam as frases
assombrosas derivadas do espírito guardião da consciência libertária do
Ciberpajé!
Fig. 1: Capa do Fanzine "Uivo" |
Fig. 3 |
Fig. 2 |
Como
um filósofo e um espiritualista amalgamado, Edgar – Ciberpajé – Franco, solapa
as comiserações de controles individuais, alertando que só há uma maneira de
controlar outrem: revolucionando-se a si próprio (fig. 2). Noutro HQforismo
ele demonstra a integração do ser homem com os outros seres na redoma universal
(fig. 3)! Para não mostrar todos
os HQforismos aqui nessa singela resenha, irei finalizar os exemplos com o
HQforismo mais contundente – tanto textual como imageticamente, com traços e
hachuras magníficas (fig. 4):
“Os abutres humanos sorriem sempre ao menor
vestígio de podridão. Fartam-se na
deterioração, regozijam-se com a dor e a ruína
alheias.
Mas lembre-se: seu veneno só poderá ser inoculado
em alguém que lhes dê
credibilidade, sua morte
é serem ignorados.”
Fig. 4 |
A
arte impressionante deste HQforismo ribomba em nossas mentes nos lembrando do
teor da sociedade e seus egos pequenos e infantilizados.
Encontro
também relações dos HQforismos do Ciberpajé em várias filosofias
espiritualistas, como no Taoísmo. Mas também em seres que aqui habitaram
querendo o melhor ao humano, como o grande filósofo educador brasileiro Huberto
Rohden, ou o transcendente Osho e ainda o solapador Krishnamurti!
O
“Uivo” foi dado! Àquele que o escutar com atenção, não o temerá...saberá que
quando os lobos uivam, é para se comunicarem aos seus, para reagruparem-se[3]...portanto,
acertadamente, Edgar, o Ciberpajé, traz nesse “Uivo”, seu brado para nos
atingir e nos reunir como humanos fraternos, transcendendo nossos simples egos
isolados! E é com essa arte sincera, e não destituída de significados estéticos
e éticos, que o Ciberpajé nos brinda como o artista - homem sublime que é – tal
qual explicou Jung, destacando a nós a importância do humano e do sensível, e não
a ignomínia que tem se tornado a humanidade relegando ao limbo tais qualidades
em troca de um profissionalismo técnico vazio e dogmático...eis a missão desse
“uivo”[4],
que nos atravessa não só os tímpanos, mas a visão e a alma!
[1] Coordenador e prof. do Curso de
Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior e criador da disciplina de HQ e
Zine no curso de Tecnólogo em
Design Gráfico da FIG-UNIMESP - Centro Universitário
Metropolitano de São Paulo, Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, mestre
em Artes pela UNESP, pesquisador do Observatório de HQ da USP e autor
independente de HQ fantástico-filosófica.
gazyandraus@gmail.com ; http://tesegazy.blogspot.com/
; http://conscienciasesociedades.blogspot.com.br/
[2] Apud BELLO, Susan. Pintando
sua alma-método de desenvolvimento da personalidade criativa. Brasília:
UnB, 1998.
[3] E este é um dos significados do uivo dos lobos,
conforme a ciência vem decifrando. Acerca de mais significados dos uivos
dos lobos, cada vez mais estudados pela ciência, vide mais aqui: http://ciencia.hsw.uol.com.br/uivo-dos-lobos1.htm
[4] Para adquirir o fanzine ou mais
informações, contacte: ciberpajé@gmail.com
e/ou www.ciberpajé.blogspot.com.br
"Uivos": um novo fanzine com HQforismos do Ciberpajé!
ResponderEliminarNossa GAZY!
ResponderEliminarEstou positivamente surpresa com este texto, leve e ao mesmo tempo profundo, analisando e fazendo referencias conceituais aos HQforismos!!! AMEIIIIIII, óh Grande ser humano!
Beijos da IV Sacerdotisa
O "Uivo" já estava pronto me trazendo essas reflexões. Obrigado, Danielle.
EliminarFicou profundo e certeiro seu texto de gazy, destaca meu papel como espiritualista, coisa que poucos entendem!
ResponderEliminarFiquei emocionado, meu irmão.
Gratidão a vc por dedicar seu tempo a olhar com tanto carinho e sensibilidade esse trabalho singelo que foi o UIVO!
Seu artigo me incentivou a dar continuidade ao zine, que seria um número único, por sua causa, vou UIVAR DE NOVO!
VIVA!!!! E Danielle fez a sugestão de vc escrever o texto de abertura do número II que lançarei no evento de História Cultural na USP! Está convidado!
Este comentário foi removido pelo autor.
EliminarÓtimo que vai dar mais uivos, Edgar. E aceito escrever o texto para o segundo uivo, claro! Abração, irmão.
EliminarSabe o que acho mais belo nisso tudo? é Edgar Franco mesmo tendo HQs seriadas publicadas em editora, livros publicados, e toda bagagem/reconhecimento que tem, não deixa de criar, não estagna, e melhor: Cria um FANZINE que para muitos é considerado algo "menor" em relação às publicações "oficiais", em editoras (como se uma pessoa faz zine até determinado momento da vida e depois passa ao mainstream - não é o meu pensamento nem o dos zineiros de verdade, mas existe isso, já percebi em muitos lugares). E o Gazy Andraus fez essa leitura profunda e maravilhosa do UIVO, preparou um post lindo, com capricho de ilustrar com as ilustrações escaneadas, não só referenciando o zine a conceitos de autores, como também à questões transcendentais, as que não estão nos livros e sim no coração e na alma. Um beijo a vocês, continuem criando e nos inspirando!
ResponderEliminarTem razão, Danielle: o que mais gostei desse Uivo é que é de altíssima qualidade e está como um fanzine, o que valoriza a existência dos fanzines. pensei nisso qdo li, mas acabei nem me lembrando na hora de resenhar...e vc lembrou o que é importante, comentando!
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