Voltei a São Vicente, vindo de São
Paulo na noite de quarta-feira, dia 5 de setembro de 2012. O ônibus levou quase
uma hora a mais para chegar ao centro da cidade, pois havia uma aglomeração de
caminhões na entrada de Santos, depois de Cubatão, devido talvez à antevéspera
de feriado da independência. Pois, ao chegar caminhando no centro da Primeira
Vila Fundada (e “afundada” politicamente falando) do Brasil, à Praça Barão do Rio
Branco, pouco depois das 22hs, qual não foi meu susto e indignação ao me
deparar com tamanha sujeira nas ruas e na praça, cujo movimento cotidiano é
intenso durante o dia. Sempre me deparo com a sujeira, mas nesse dia,
excluindo-se que não era sábado e nem feriado ainda, estava demais. Lembrei-me
de quando estive no Líbano em 2010 e presenciei um país também com bastante
lixo em algumas localidades: lá, devido à guerra civil que durou 20 anos, a
população se descuidou de questões essenciais, e muitos que foram morar depois,
apesar de religiosos, parece que não se preocupam nos quesitos mais básicos de
limpeza e organização (para que serve a religião, então? Só para cultuar Deus –
ou que quer que tenha nome essa energia universal - e se descuidar do resto?).
Assim, quando voltei à brasilidade, meu choque foi perceber que aqui, sem
guerra mesmo a se justificar, a população agia igual, sujando as calçadas e o
que pudesse, numa clara demonstração que independe o país, a população e a
religiosidade (pois aqui também, um povo que se diz católico, mas que não cuida
da limpeza), e sim, a educação perdida (claro, há culpa numa governabilidade
corrompida que não colabora na educação e na saúde). Para mim, quando se
professa qualquer que seja a religiosidade, isto se bastaria para servir de prumo
e orientação mais básica, no quesito de limpeza e organização a fim de uma
manutenção de convívio pleno e salutar entre as pessoas de uma nação. Vide que
ateus, por não se direcionarem à nenhuma espiritualidade, ainda assim, se
pautam por uma índole racional e conseqüente, e portanto, sabem respeitar as pessoas
e cidades (falo isso, por ter um ou outro amigo ateu possuidores de um caráter
excepcional). Mas, afinal, percebi que isso independe: tanto no Líbano como
aqui no Brasil, a massa ignara de pessoas não têm consciência formada!
O sistema capitalista as faz
gastarem a esmo, sem raciocinarem, sem profundidade, e apenas para aplacar
instantaneamente seus desejos consumistas, egóicos e de gula, mascarando um
pobre e deficiente desenvolvimento interno de estado psicológico, em que suas
agruras, temores, humores e desequilíbrios são trocados por rápidos e fugazes
momentos de prazer consumista desenfreado. O educador Ruy Cezar do Espírito
Santo costuma advertir que falta um desenvolvimento em que as pessoas saibam
conectar seu ego a seu Self, de acordo com a premissa de Carl Gustav Jung. Eu
concordo: o ego parece primário, infantil e astuto, e deveria servir ao Self,
que é um “Eu” mais sábio do ser humano, pois mais divinizado, complexo,
quântico e atinente ao universo (ser univérsico como diria Huberto Rohden).
Sim, como não sabemos disso, e não temos estímulos de educação para tal (de
“educere”, que significa trazer de
dentro para o afloramento de uma educação que jaz em cada um de nós
adormecida), aliado ao pouco que ganhamos nos salários suados, somos estimulados
aos gastos ensandecidos para aplacar a frágil estrutura psicológica (obviamente,
eu me encontro nessa também, sempre tentando debelar essa falta). Até aí é uma
etapa do problema: a outra é o mazelo com que lidam com os refugos de suas
aquisições, em especial as embalagens dos produtos, sejam alimentares e/ou
gerais (nesse quesito, busco consumir menos e jogar as embalagens nos
depositários de lixo espalhados pelas urbes).
Vejam nas fotos e filmagem que fiz – sim: ao chegar no meu apartamento, decidi voltar à rua, quase às 23hs, para tentar registrar o descalabro, a prova de uma sociedade inconseqüente, infantil, domada e direcionada apenas aos atos de consumo sem nem raciocinar nos rastros de destruição que para trás (e para o futuro) deixam!
Não seria já hora de nossas
mídias, nossas escolas, faculdades etc abordarem uma educação verdadeira, e não
essa irreal e que apregoa o ensandecimento competitivo sem percepção nas
conseqüências?
Tirem vossas conclusões. Eu ainda
creio numa humanidade que virá, preservando e criando, sem descuidar das
conseqüências...sim, sou espiritual, no sentido univérsico (de Rohden) e
quântico-ativista (no sentido de Amit Goswami), e questionador (no sentido de
Krishnamurti). Também busco a paz (como Gandhi), e a ação decidida, como a de
guerreiros de luz (e não de arrebatamentos físicos). Mas essa última atividade
ainda estou longe de conseguir fazer fluir. Enquanto isso, busco me orientar
aos afazeres e à divulgação daquilo que julgo errôneo e que precisa ser
realmente visto e revisado, como esses descalabros que ocorrem nessa cidade que
resido há mais de 37 anos! E que, claro, servem de alerta e exemplo a todas as
outras espalhadas pelo nosso país. E não finalizo sem antes deixar um recado
aos que se dizem nossos políticos (e aos que pleiteam sê-lo e re-sê-lo):
cuidado, porque essa “gula” de vocês por um lugar a esse “sol” que buscam (o
dinheiro, é claro), está com os dias contados! A população brasileira já não
suporta mais essa condição desigual e esse desequilíbrio entre vossos salários
e os deles, entre os trabalhos que eles têm e as falsas atividades que vocês
simulam e ensejam no pleito da falsa política que vocês abarcam. Cuidado,
porque o limite já passou até, e é questão de (pouco) tempo para que isso
desmorone de uma vez! Os sinais já estão aí, incluindo essa sujeira nas ruas e
a falta de uma vida equilibrada que ofusca e nubla as mentes das pessoas,
colocando-as como zumbis...se vocês que desejam cargos na vida política não
começarem a pensar realmente no que quer dizer tal função, e trabalharem de
verdade para a harmonia da polis, vocês mesmos serão também engolfados por essa
aberrante vida desproporcionada, e serão arrastados como glutões ensandecidos
que são...vide minha HQ “Terra & Plantio”, e entenderão! Vou parafrasear
uma frase encontrada nessa obra de Goya: “O sono da educação cria monstros”!
Gazy Andraus, início de setembro
de 2012.
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